segunda-feira, 22 de março de 2010

OÃSICEDNI (?)

Encurralada nas paredes da indecisão,

afogo-me na escuridão culminante,

onde me resguardo e surgem dúvidas

acerca dum futuro não muito distante.

A vocação,

é uma das mil estrelas que procuro.

Confusa, distraída, por vezes tímida

Procura alguém que a ajude.

Desejo uma ortografia diferente,

onde o sinal de interrogação não existe.

Tento deixar a incerteza de lado,

contudo, este sentimento persiste.

Saldos

Inicia-se a vinte e oito de Dezembro, aquela a que pudemos chamar época de SALDOS. As lojas colocam os seus atractivos e coloridos cartazes cheios de números e percentagens em tamanhos descomunais. Estes parecem resultar já que as pessoas não resistem aos seus encantos, abarrotando aquele local que todos conhecemos, o centro comercial. Eu não fui excepção.
Numa chuvosa tarde de Sábado, dei por mim no meio daquela loucura onde as pessoas não têm espaço para se mover ou até para respirar e parecem esquecer-se das regras das boas maneiras. No interior das lojas era o caos total! Eu, na companhia dos meus padrinhos e prima, atrevi-me a entrar numa loja de vestuário. Dispersei-me um pouco e decidi inspeccionar, no entanto, toda aquela roupa me parecia banal até que…
- Olá velha amiga! Velha…percebeste? Hahaha! – gracejava um casaco pitoresco da nova colecção.
- A juventude de hoje em dia! Já dizia a minha avó: “Os jovens têm cada vez menos respeito pelos mais velhos”. – resmungava um vestido que se encontrava na secção de saldos.
Estaria louca? Ou seria apenas o calor que me estaria a provocar tais alucinações? Continuei a ouvir:
- Pelo menos, nesta época, nós, peças em saldo, temos muita procura ao contrário de vocês que exigem preços exorbitantes! – disse uma calça que era já par único.
- Pois minha querida, a qualidade paga-se... – disse o casaco convencido.
- Coitado de quem te tiver que te aturar. Olha que com tanta superioridade ainda te caí um botão! – ripostou a calça.
- A inveja é muito feia! Aliás nem sei porque te respondo. Um casaco tão elaborado e espampanante como eu não dá atenção a qualquer um, sua calça renegada! – afirmou, rudemente, o casaco.
Uma maré de pensamentos, de dúvidas e teorias inundava a minha cabeça. Afinal, que explicação plausível poderia arranjar para um conjunto de roupas estar em plena loja a discutir?!
- Ó tu! – gritou o casaco.
- Eu? – interroguei-me.
- Sim, tu. Se tivesses de optar entre mim e aquelas ali, o que escolhias? – interrogou.
- Bem, nenhuma de vós faz o meu género mas sem dúvida que são muito especiais.
- Não faço o teu gosto?! Como não? Eu sou o sonho de qualquer rapariga. – protestou a peça.
A calça e o vestido que entretanto foram levados não tiveram oportunidade de continuar a conversa. Momentos mais tarde, fui abordada por uma funcionária da loja que me interpelou agressivamente:
- Onde estão os seus pais? Tenciona comprar este casaco?
- Compra-me! - exclamou o casaco.
- Ouviu-o? Ele fala! – disse, um bocado aflita.
- Você está a gozar comigo?! Por favor, acompanhe-me. – gritou, furiosa.
- Mas, mas… - lamuriei.
- Quero comprá-lo! – disse coagida.
- Então não se demore. Não precisamos de loucas nesta loja ainda por cima que não compram nada. – informou.
O casaco sorriu e abandonou a loja, orgulhoso, dentro do meu saco de compras, fazendo caretas a todas as outras.