sábado, 17 de setembro de 2011

O QUE LEGITIMA E ESTÁ POR TRÁS DE UMA CRENÇA?

Neste ensaio filosófico, discute-se o problema de saber quem ou aquilo que estimula o acto de acreditar em algo. Defendo, sem hesitar, que aquilo que nos leva a admitir as crenças é, precisamente, a nossa ignorância. Na minha opinião, uma crença surge naturalmente aquando de algo que consideramos inexplicável.
Em defesa da minha posição, utilizarei a minha interpretação da teoria de W. Clifford, sendo esta a principal fonte de todo o meu raciocínio. Penso que este filósofo pretende salientar a importância da racionalidade enquanto seres humanos que somos, considerando, por isso, imoral acreditar naquilo para o qual não temos provas ou argumentos. Afinal, se não fosse a nossa capacidade de pensar, o que nos distinguiria dos animais?
Primeiramente, gostaria de referir que, na sua maioria, as crenças são transmitidas, portanto, por trás de uma crença, esconde-se, quase sempre, um familiar, um amigo ou até mesmo uma autoridade conjugado com uma carência de reflexão. Aceitar aquilo que nos dizem é, até certa altura, aceitável e se calhar sinal de obediência, contudo, questionar a nossa fé, quando capazes, torna-se essencial. Não me parece de todo correcto acreditar, por exemplo, que uma laranja é azul se temos provas de contrário.
Certamente, me poderão contrariar argumentando com o “caso especial” da crença religiosa, isto é, dir-me-ão que é legitimo acreditar em Deus independentemente daquilo que nos levou a acreditar, ao que eu, muito simplesmente, responderei que uma crença é uma crença, logo, sem provas palpáveis, ter fé em Deus é igual a crer que não necessitamos de nos alimentar. Ambas são opções genuínas uma vez que podem mudar o modo como vivemos, pois seremos devotos a alguém superior ou deixaremos de comer, respectivamente. São, igualmente, momentosas porque perderemos a bênção divina e a possibilidade de uma vida eterna ou, no segundo caso, ficaremos desnutridos e surgirão imensas doenças, bem como, são forçosas, já que, se não acreditarmos, perderemos um bem vital ou se deixarmos de comer podemos morrer.
Em suma, nada pode legitimar uma crença exceptuando as provas. Quanto ao que está por trás de uma crença são inúmeras as razões, mas todas decorrem da preguiça em reflectir ou então de uma incapacidade de pensar.